Toward net-zero mobility: Evaluating scenarios for road transport decarbonization in Brazil
Policy Brief
Rumo à mobilidade zero emissões: avaliação de cenários para descarbonização do transporte rodoviário no Brasil
O setor de transporte é responsável por 10% das emissões totais em 2023, mais do que a geração de energia elétrica e o setor industrial, com 92% do total sendo do segmento rodoviário. O governo brasileiro reconhece os veículos elétricos (EVs) como peça-chave para a descarbonização do transporte. No entanto, ainda não estabeleceu metas claras de eletrificação, nem detalhou como o país pretende alcançar emissões zero no transporte rodoviário até 2050.
Paralelamente, a estratégia de descarbonização adotada pelas principais montadoras no Brasil está focada em veículos híbridos flex-fuel; o programa MOVER (Mobilidade Verde e Inovação), responsável por definir os padrões de emissões de dióxido de carbono, estabeleceu uma meta redução para 2027 que está apenas 3% abaixo das emissões dos carros de passeio vendidos no primeiro semestre de 2025, o que demanda pouco esforço das montadoras. Para veículos pesados, o programa anunciará as primeiras metas em 2029, com data de cumprimento em 2033.
Para analisar qual o caminho mais eficaz em direção à descarbonização, este estudo modela as emissões de dióxido de carbono, no ciclo do poço à roda, do setor de transporte rodoviário brasileiro em quatro cenários distintos entre 2025 e 2050:
- Baseline: representa a manutenção das tendências atuais, incorporando apenas as metas de emissões de dióxido de carbono e a eficiência energética compatíveis com a primeira fase das metas definidas pelo Programa MOVER para veículos leves.
- Transição eclética: simula a implementação do atual caminho de descarbonização adotado pela maioria das montadoras e considera várias soluções: biocombustíveis, biometano e hidrogênio verde, juntamente com BEVs (veículos elétricos a bateria) e PHEVs (veículos híbridos plug-in).
- Eletrificação moderada: inclui maior penetração de BEVs em todos os segmentos, alinhados com as metas de eletrificação do México, Colômbia, Chile e Equador.
- Eletrificação ambiciosa: reflete uma adoção ambiciosa de veículos zero emissão em todos os segmentos.
Figure. Evolução das emissões de GEE nos quatro cenários, 2025-2050

Cada cenário conta com medidas de descarbonização únicas, o que resulta em evoluções distintas das emissões de gases de efeito estufa ao longo do tempo. Entre os principais resultados encontrados estão:
- As emissões no cenário baseline são as mais altas entre todos os cenários, com níveis de emissões projetados para 2050 apenas 7% abaixo de 2025.
- No cenário de transição eclética, o aumento do uso de biocombustíveis, GNV e hidrogênio para caminhões pesados e a maior adoção de veículos híbridos plug-in entre os veículos leves resultam em níveis de emissão 17% menores em 2050 se comparados a 2025.
- O cenário de eletrificação moderada mostra uma redução mais rápida nas emissões de gases de efeito estufa com níveis de emissão 28% menores em 2050.
- O cenário de eletrificação ambiciosa é projetado como o mais eficiente para promover a descarbonização do setor de transporte rodoviário; a transição acelerada para veículos zero emissão com foco veículos elétricos a bateria, combinado a uma rede elétrica de baixa intensidade de carbono, resulta em emissões 64% menores em 2050 do que em 2025.
Os resultados indicam que a eletrificação da frota, especialmente com a introdução de veículos elétricos a bateria, pode ter papel decisivo na redução das emissões do setor de transportes no Brasil. Para isso, a introdução de metas de eletrificação no Brasil, assim como metas de emissão mais rígidas na segunda fase (2028-2032) do programa MOVER, pode incentivar as vendas deste tipo de veículo, além de sua produção nacional. Ainda, incentivos não financeiros, como o acesso a zonas de baixa ou zero emissão, privilégios de acesso a ruas e áreas urbanas e vagas de estacionamento exclusivas, podem oferecer um apoio eficaz à eletrificação.
Enquanto a eletrificação de veículos comerciais leves apresenta maior viabilidade no curto prazo, a transição de veículos pesados dependerá de investimentos significativos. Portanto, identificar corredores logísticos e áreas urbanas prioritárias será essencial para aumentar a disponibilidade de infraestrutura pública de recarga, a fim de estimular a eletrificação do segmento.
